A epopéia do aluguel

Prazer, Laura.

Pausa nos posts dinâmicos para uma dissertação sobre o aluguel. Peguem o lencinho... a história é triste.

Por muitooo pouco não levei o maior balão da história.

Eu sempre desconfiei de negócios online. Na minha época de juventude, por exemplo, tinha aquele preconceito de que só pessoas feias arrumavam namorado pela internet. Não posso afirmar tal maldade, mas de qualquer forma eu sempre fui espertinha. Até hoje.

Eu imaginava que a tarefa mais chata de todas seria a de achar um apartamento pra morar e, nas primeiras pesquisas que eu fiz, tive certeza que estava certa – ta sendo chato, cansativo, sem graça e um tanto quanto perigoso. O problema é que são vários problemas:

1. Eu vou ficar só 3 meses e a maioria dos contratos exige um mínimo de 6 meses.

2. Minha ansiedade não corresponde às necessidades dos flatmates - a maioria das vagas é para mudança imediata e eu só chego em 40 dias.

3. Boa localização e preço razoável não caminham juntos. Ok, isso é meio óbvio, mas eu não estou falando de centro de Londres, Oxford St ou Buckingham Palace (minhas referências estão muito criativas)...tô falando de um lugar com estação de metrô perto e que seja minimamente povoado.

4. Confesso. Eu sou fresca pra caramba e as fotos que o povo coloca nos anúncios são as mais feias do universo. Quem, em sã consciência e querendo alugar o apartamento, tira foto de quartos bagunçados, pias cheia de louça pra lavar e banheiros horrorendos? 

Né?

Daí que já faz alguns dias que me mato de olhar nesses sites “página amarela” e não consigo achar nada interessante, porque um (ou vários) dos 4 motivos acima sempre aparece para acabar com a festa. 

Mas eis que ontem, 3 (trêêês) pessoas me respondem (eu mandei email para os anúncios que mais gostei) falando que tinham quarto disponível para quando eu quisesse, chegando o dia que eu quisesse, com uma localização muito mámuito boa (um deles era em uma paralela à Oxford St), com fotos liiiiiiiiindas e com um preço excelente. Para ter uma idéia, o aluguel era 400 pounds por mês, sendo que o mais barato que vi (com metrô perto) era no mínimo 800 pounds por mês.

Fiquei radiante achando que tinha recebido uma graça divina! Me apareceu um sorriso de orelha a orelha porque tinha encontrado minha home, sweet home.

Troquei vários e-mails com essas 3 pessoas e elas tinham um ponto em comum: eram MUITO, muuuuuuito simpáticas. Alguns trechos que valem a pena ler:

Hey, Laura! Wow! A brazilian girl! how exciting!!

You can rent the room for the duration you want it and i would love to assist you with your english as well :)

You will be sharing the flat with me Stella 25, and the other is a female professional Leona 24, who is a very pretty lady and also hardworking.

Can't wait to meet you.

E como se não bastasse a fofurice, uma delas me mandou a foto (diretamente do Orkut londrino) pra eu ter certeza que ela existia! Merece a publicação:

Tá bom pra vocês?

Minha animação era tanta que eu já me imaginava no lindo living room, de pijama e meias, tomando chá das 5 com minhas simpáticas roomies. Enquanto elas me ajudavam no inglês, eu contaria da minha vida no Brasil e provavelmente ensinaria algumas palavras em português. Uma poderia emprestar roupa da outra e jantaríamos todos os dias vendo So you think you can dance?. 

Corta.

Era tudo um golpe!!! 

Bom, primeiro que tava na cara que tinha alguma coisa errada, né? Só eu e minha vivência de 13 anos demoramos pra perceber. Comecei a achar estranho quando pedi pra um amigo dar uma olhada no flat antes de fazer o depósito antecipado - todos pedem um "sinal" para garantir a reserva do espaço e que sempre é devolvido assim que a pessoa se muda pra lá. É uma garantia, eles estão certos. Mas essas 3 pessoas me falaram que ANTES de alguém passar lá pra ver, eu teria que fazer um depósito... a desculpa é que vários roubos acontecem quando estranhos vão visitar os apartamentos. Papinho dos mais mequetrefes, porque obviamente o flat não existe.

Terrível, não? 

Aproveito aqui pra registrar um beijo virtual pras minhas menininhas lindas - Gabi e Mô - que não me deixaram  mandar uma foto minha em agradecimento à foto da menina. E outro pro Mário, um amigo querido que já está por lá e me proibiu de fazer qualquer depósito, inclusive pra ele. Smaaack, bonitos!

Fica então o aprendizado:

- são vários sites "página amarela". Eu usei o Craigslist, o Moveflat e o Gumtree. Foi nos dois primeiros que eu tive esse problema e estou focada no Gumtree a partir de então.

- é difícil ter certeza que o acordo é honesto, ainda mais estando longe. Temos duas opções: contar com o bom coração de algum amigo que more por lá, pra dar uma passadinha e olhar o lugar e a cara das pessoas. Ou, se não conhecer ninguém, peça uma "visita" via skype. Pode ser uma boa.

- desconfie de fotos over produzidas. Essas são as que eu recebi.

A realidade é dura, minha gente!!! E ela é feita de carpetes que deixam pretas as meias brancas, cortinas feitas de lençóis, sofás de couro preto, cozinhas sem raio de luz, edredons nada aconchegantes, papel de parede e banheiro de ladrilhos rosa. 

A esperança é a última que morre.