sábado, 20 de agosto de 2011

Poulain

Eu tenho memória seletiva, assumo.
Sou uma beleza pra esquecer coisas que não me são assim... tão importantes. Ao mesmo tempo que consigo guardar boas lembranças de momentos que, por mais simples que pareçam, tenham sido especiais pra mim. Uma coisa meio Amelie Poulain, sabe como? Momentos épicos como dizem por aqui.
Mas minha seleção de memórias é muitas vezes piadista. 
Por exemplo: eu amei minha viagem para Cuba com minha mãe e meu irmão, mas uma das coisas que mais me marcou foi a sensação de tomar coca-cola num lugar proibido (meu irmão vai me matar por essa). 
Lembro pouco da minha primeira vez na Disney, mas nunca vou esquecer a cara de feliz do meu avô quando viu o castelo do Magic Kingdom.
Teve também o dia que apresentei minha primeira (e talvez última) peça de teatro. Eu tremia inteira de nervoso e quando entrei em cena (uaaau) pra falar qualquer besteira, eu vi aquela luz na minha cara, as 20 pessoas na platéia e me deu pânico. Mas eis que meu olho encontra com o Seabra e a Tati (meus amigos mais que amados) no meio da multidão e tudo ficou mais fácil, leve e feliz. Foi um momento único (literalmente) na minha vida.
Tive a companhia do Mark (meu amigo australiano) por 2 meses na minha casa, mas sempre que penso nele, lembro do dia que ele "assaltou" meu guarda-roupas e fez uma performance a lá Shakira no meio da sala. Foi um momento épico-histórico-eterno.
Nada tira da minha cabeça o cheiro de tuti-fruti do albergue que fiquei em Buenos Aires. 
E lembro muito bem da noite que jantei do lado da Anne Hathaway ihihih. Lembro o restaurante E o que eu comi. 
Dos mais recentes, com certeza ter ido ao show do Paul McCartney com a minha mãe ficou eternizado. Ouvir juntas e ao vivo as músicas que a gente costumava ouvir quando eu era pequena (enquanto eu provavelmente reclamava que queria ouvir Xou da Xuxa), foi dos momentos mais épicos da vida. 
Achei divertido pensar nisso e lembrar de alguns desses momentos. Óbvio que eu não consigo lembrar da maioria deles, mas sei que estão guardados aqui dentro pra quando eu precisar ressuscitá-los : )
Tudo isso pra contar que essa semana aconteceu um desses... ahahaha (ainda não me acostumei com a exposição de um blog).
O Royal Albert Hall é um concert hall (porque falar "casa de espetáculos" soa muito ruim) que vale a visita pela localização (fica de frente pra um dos pedaços mais bonitos do Hyde Park), pela lindíssima arquitetura e, obviamente, pelo interior que é deslumbrante (acho que eles não fazem "visita guiada", pra entrar tem que comprar ingresso pra um evento em cartaz e eu juro que até show do Roberto Carlos + Wanderléia vale a pena assistir por lá). 
Esse daqui:

Só por isso ele já seria merecedor de passar na seleção da memória, mas foi além e entrou pra categoria de momentos épicos. 
Assisti a um concerto que faz parte dos BBC Proms, uma temporada de apresentações de música clássica por 5 pounds (olha o momento épico aí geeente). Você só precisa ficar tipo umas 3 horas na fila debaixo de chuva (momentos épicos também são marcados pela superação) e rezar pra conseguir entrar. 
Uma vez dentro, respira fundo, senta e chora. 
Foi o que eu fiz. 
Eu decididamente não sou dessas super admiradoras de música clássica (um oferecimento: Tia Léo, minha professora de piano por 8 anos) e não entendo nada sobre compositores e etc. No fundo no fundo eu não devo ser uma pessoa culta na forma genérica, porque ainda tô pensando se realmente gosto de museus. Não gostar de museus EEE música clássica com certeza te rebaixa a nível de pessoa inculta.
Mas daí o Tchaikovsky apareceu com a luz no fim do túnel. Com ele veio o maestro mais animado do mundo, com direito a pulinhos, semi-poli-chinelos e jogadinhas frenéticas de cabelo (já reparou que TODOS os maestros têm cabelo compridinho?)
E veio também a melhor violonista que eu vou ver em vida.
Foi um encontro épico. 
A música contava uma história (todas fazem isso, é verdade) e dava pra saber exatamente quando o pessoal estava brigando, triste ou feliz. Com certeza tinha alguma coisa de amor não-correspondido no meio.
Só sei que resolvi seguir a recomendação do meu amigo de fila: sentei no chão e fechei os olhos.
Fez-se o momento épico.
Não tinha nada assim de tãoo especial é verdade, mas já percebi que os momentos épicos são esses menos óbvios e que acontecem quando menos esperamos. 
E deixo aqui dois pedaços de shows que aconteceram no Royal Albert Hall e que com certeza foram épicos pra quem estava por lá.


Obs - esse negócio de ouvir música de olhos fechados, focando o sentimento em só um sentido, é uma dica e tanto. Experimenta!

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