terça-feira, 2 de agosto de 2011

Desencanamento britânico

Posso voltar pro Brasil mais perdida do que nunca, mas de uma coisa eu sei: muitas das minhas frescurites ficam por aqui. 
Tá pra nascer povo mais desencanado que o londrinho / pessoa que mora em Londres. E eu, como boa reparadora que sou, andei captando algumas dessas desfrescurites e estou treinando em mim mesma. Tenho feito bastante progresso em algumas e alguns retrocessos em outras.
Vamos por capítulos.
Capítulo 1: o jornal do metrô
Aqui eles têm um jornal free edição especial metrô. To-do mun-do lê esse jornal no metrô e quando acabam, deixam atrás do banco pro próximo que quiser ler. Meu problema na verdade são dois. Um: a impressão é bem ralé e a tinta do jornal fica inteira na mão (sempre sujo a cara ou a roupa quando me encosto e a pele fica seca no último grau). Dois: tenho pavor de pegar um jornal e encontrar alguma coisa deixada pelo leitor anterior (tipo chiclete mascado, pedaço de comida, baba de dedo que vira a página...). A boa notícia é que faz uma semana que leio todo dia esse jornal. A má notícia é que gastei 1 pote de alquinho durante a mesma semana.

Capítulo 2: encostando no metrô
Acho uma das coisas mais asquerosas do mundo ver vidro sujo de gordura de cabelo. Sabe como? Aquele lugar que todo mundo encosta a cabeça e haja oleosidade no final do dia. Pois então, aqui todo mundo encosta no tal espacinho da cabeça, seja rico, pobre, feio e bonito. Encostei lá umas duas vezes porque dormi sem querer. Se fosse a Laura de 1 mês atrás, com certeza eu teria lavado o cabelo chegando em casa. A Laura de agora se contentou em dormir com o cabelo preso. Uhuu!

Capítulo 3: a saia.
As londrinas têm problemas com saia, juro. Primeiro porque elas não têm nenhuma noção de comprimento. Tá cobrindo o básico, tá bacana. Segundo porque elas não sabem lidar com as pernas enquanto vestidas de saia. E no metrô o povo senta um de frente pro outro, ou seja, ver a calcinha alheia é tão básico quanto ver um cotovelo.
Esse é um dos retrocessos, simplesmente me recuso a usar saia.
Capítulo 4: o cachorro
0,4% dos londrinos andam com o cachorro preso por uma coleira. Eles desencanam do bichinho e andam felizes na sua individualidade. Se o cachorro quiser acompanhar, ótimo, se não quiser, vira cartazete de poste.


Capítulo 5: o(a) filho(a)
Quero ser uma mãe londrina. Eles não precisam nascer aqui, mas quero me comportar como uma verdadeira mãe londrina quando meus futuros filhos nascerem. Elas são absurdamente desencanadas. Não tem essa de ficar cercando o filho e enchendo ele de cuidados. Tem mãe que coloca o carrinho com o filho no lugar reservado pra carrinhos dentro do ônibus e vai sentar lá no fundão feliz da vida lendo seu livrinho. Maior frio da paróquia e crianças felizes correndo de camiseta e shorts. A chupeta que cai no chão ganha uma esfregadinha na camiseta e volta pra boca do filho. As mães se divertem com a sintonia entre seus filhos e os pombos (muito ecaaa). 
Capítulo 6: o cabelo
A regra é: lavar estraga, pentear jamais, se chover que chova no meu cabelo. E podem acreditar que o desencanamento capilar faz maravilhas. As londrinas são ótimas e super criativas nos penteados, eu adoro e assumo que imito. Mas não tem jeito, pra ficar formoso, tem que estar sujo e bagunçado. Eu confesso que tenho pulado umas lavagens só pra garantir o cabelo minimamente bagunçado e isso é um baita avanço na minha vida.


Capítulo 7: o brechó

Tenho plena consciência que só volto curada pro Brasil o dia que conseguir comprar uma roupa de brechó. Os brechós aqui (ou vintages stores, como chamam), são muuuuuuito hype, muitoooo famosos, muiiitooo procurados e muiiiiito fedidos. Não fedidos, fedidos... cheiro de quarda-roupa velho (o que faz todo sentido), de vou-morrer-de-rinite, sabe?
Todo mundo que eu conheço aqui compra pelo menos uma roupa de brechó por semana. E tenho que concordar que são muito bacanas mesmo, ainda mais pra quem gosta da moda dos anos 60 e 70. O problema é que eu não consigo, nããão consigo. Não consigo pensar na hipótese de me vestir com a roupa de alguém que eu nunca vi na vida. Eu sei que é só lavar, mas fico pensando no tanto que a pessoa deve ter suado, no que ela fez usando aquela roupa... não fico feliz. A minha aflição está ali, nas partes de roupa que mais ficam em contato com a pele (as dobrinhas do corpo). 
De qualquer forma, eu estou super empenhada e acho que vou começar por um lenço (neutro, sem dobras) que vi e gostei. 
Tem gente que compra chapéu em brechó. Tipo a coisa mais nojenta e-v-e-r.

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