quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Escandinávia - parte 1

Acabei de voltar das férias das minhas férias. 
Pela primeira vez não entrei em séria depressão no último dia de viagem. Porque né, estar aqui é um presente contínuo na melhor forma de gerúndio - vou estar continuando a viajar. 
Uma viagem dentro da viagem.
Pausa.
Não sei em que momento da minha vida bloguística, determinei que esse blog não é exatamente um blog no formato de Querido Diário, do tipo:
"Oi, gente! Boa tarde pra quem está em Londres e bom dia pra quem está no Brasil!
Hoje fui no Tesco comprar carne e escorreguei no chão. Daí comprei ameixa achando que era rabanete e shampoo achando que era sabonete. Que coisa, né? Voltei pra casa e fim."
Cha-to, apesar de tudo isso ter acontecido.


Quando aos 12 anos, meus diários começavam em janeiro e terminavam em fevereiro. Acho chato escrever sobre o que fiz ou deixei de fazer e nunca tive paciência de ler. E assim mantemos o mesmo raciocínio aqui no mundo digital.


Tudo isso pra contar que decidi transformar a viagem pra Escandinávia em um relato sobre transformações e aprendizados PLUS momentos épicos - que foram vários. Parece que vai ficar um tédio, né? 
Vamos lá.
Introdução: me conhecendo melhor.

Sou uma pessoa fresca. Bem fresca.
Tenho TOC com limpeza.
Levo a sério as 2 malas de 32 quilos até pra viagens de final de semana em Monte Alegre.
Me sinto terrível na repetição de roupas.
Acho chique ter um guia-espiritual.
Pela primeira vez viajei sem ter nenhuma noção do que me aguardava. 
Me achei super cool de estar indo pro Leste Europeu, mas na verdade fui pro Norte.
*guarda essas informações, são essenciais para o que vem a seguir.
Capítulo 1: mochilando.
O que seria "mochilar"? É só o ato de viajar com uma mochila nas costas ou tem a ver com uma filosofia maior de pessoas-descoladas que não admitem que estão indo pra Europa passar férias e por isso preferem dizer que vão fazer mochilão? Deve ter a ver com pingar de país em país, ficar em albergue e economizar no almoço pra gastar no pub (apesar de eu ter certeza que um mochilão de 20 dias sai mais caro que uma lua-de-mel num hotel bacanudo na Grécia). Talvez um mix de tudo isso.
Enfim, eu aposentei a mochila. 
E isso, pra mim, quer dizer:
> Albergue nunca mais.
> Mala pra 10 dias com 5 camisetas e 3 calças nunca mais.
> Shampoo que também é condicionador pra economizar na necessaire nunca mais.
> Lavar calcinha e pendurar na frente de pessoas que você nunca viu na vida, nunca mais.
> Não poder levar base, 3 opções de batom ou uma sombra colorida quando se vai pro país das mulheres mais bonitas, nunca mais.
> Esperar sua vez de entrar no chuveiro e de lá sair um homem de cueca nunca mais.
> Viajar carregando mala no ombro nunca mais.
> Vestir 5 casacos e duas calças na hora de pegar o avião só pra não ter que despachar a mala e pagar mais caro, nunca mais.
As duas únicas teorias do mochilar que eu ainda concordo são: dar uma corridinha nos países pra tentar conhecer o máximo possível e hotel é pra tomar banho e dormir, não precisamos ver e ser vistos.
Lição aprendida: tem coisas que a gente simplesmente não muda e quanto mais velha, mais chata.
Capítulo 2: o albergue.
É bem possível que o problema esteja em mim, mas eu acho bem desagradável ver gente estranha dormindo. Ou saber que alguém que nunca vi na vida está me vendo dormir. As pessoas ficam estranhas enquanto dormem. É muita muita exposição. Tanta exposição que eu acho estranho não dar um abraço de bom dia em alguém que dormiu perto de mim. Dormiu perto, virou amigo.
Lição aprendida: sim, é possível dormir com o lençol em forma de burca.


Daí tem os aposentos de azulejo no chão. Tenho pavor de azulejo desconhecido. Banheiro de albergue é pavoroso. Chuveiro de albergue é de vomitar (desculpa, não tenho um adjetivo à altura). 
Azulejo em contato com a pele nem pensar. God save Havainas, mas daí vem a hora do banho e você descobre os azulejos nojentos da parede, cheio de cabelo alheio. E isso quer dizer: tomar banho sem expandir os membros num diâmetro maior que o ombro. Esquece abrir os braços, levantar a perna, tentar alcançar as costas ou fazer espuma com o shampoo no cabelo. 
Esquece também recuperar o frasquinho de shampoo que foi parar no ralo. 
E como se não fosse suficiente, a gente tem que se trocar dentro do box e, na tentativa de sair logo de lá, vai com o corpo semi-molhado mesmo. Já tentou colocar meia-calça dentro do box com o corpo molhado? Ah, tá.
Lição aprendida: o corpo é cheio de gavetas e cabides. Enquanto tenta colocar a calça, a camiseta fica pendurada no ombro. Enquanto coloca a camiseta, a toalha fica presa no meio da perna. Enquanto seca o cabelo, a meia fica presa pelo dente. E assim vai. 


Capítulo 3: só trouxe sabonete em barra pro albergue e não tenho dinheiro pra comprar líquido.
Não toma banho. Nunca mais, se for preciso.
Capítulo 4: o guia-espiritual.
Sempre achei super-chique quem fala que tem um guia-espiritual. Eu sempre tive o meu (rá!), o Padre Gilberto, Gibinha pra mim e minha mãe. Tá pra nascer pessoa mais querida, né mãe? Ele sempre teve as palavras certas nas horas certas e mesmo longe, parece estar aqui do lado. Sem contar que ele tem MSN e vira e mexe manda umas piadas muito engraçadas por email. Saudades do Gibinha.
Daí que em Copenhague achei mais um guia-espiritual. Pode ser que meu próximo curso já tenha começado a exercer alguma influência na minha vida, mas conheci o Hima (o nome dele é maior que isso, mas só entendi até aí). Ele dormia na cama de baixo do meu beliche e, segundo a Fê, foram minhas 4 noites mais abençoadas da vida. Ele é indiano e tem algum "cargo" importante no Hinduísmo. E, como ele estava literalmente dormindo embaixo de mim, resolvi pelo menos me apresentar, né? Contei pra ele do meu curso de Budismo e ele ficou super feliz e disse que era perfeito nesse momento da minha vida. 
No dia seguinte, além do bom dia, ele já dava lição de moral em mim e na Fê. Enquanto nos arrumávamos pra sair, ele dizia: meninas, a beleza está dentro de vocês, maquiagem é besteira e faz mal para a pele. 
No terceiro dia ele me fez prometer que não comeria carne durante o mês do meu curso de budismo e que era pra eu tentar fazer pelo menos uma pessoa sorrir por dia. 
No quarto dia eu acordei no meio da noite e ele estava rezando, de pé, com uma mão apontada pra Fê e outra pra mim.
Ganhou. Ganhou o cargo de guia-espiritual.
Lição aprendida número 1: a gente tem muuuuito o que aprender na vida ainda.
Lição aprendida número 2: google na churrascaria mais perto de casa pra me acabar de comer durante setembro.
Capítulo 5: a rivalidade.
Estávamos em Copenhague no dia do jogo Dinamarca x Noruega, um super clássico escandinavo, tipo Brasil x Argentina guardadas as devidas proporções. A cidade estava toda pintada de vermelho, barulhenta, pessoas se abraçando, os bares lotados desde as 10h da manhã, um festança dos... noruegueses! Tinha mais norueguês que dinamarquês na Dinamarca e os dinamarqueses que estavam lá se misturavam com os noruegueses e formavam uma só torcida (os dois times vestem vermelho). Daí perguntei pra um dinamarquês se ele não se irritava com a festa dos noruegueses, como ficava a rivalidade e ele disse: eu acho muito divertido e no final das contas temos que cuidar um dos outros.
Lição aprendida: dinamarquês 127.890, Laura 0.
Os momentos épicos ficam pro próximo post! : )

3 comentários:

  1. Laurinha, seu blog é lindo e eu acho isto desde o primeiro. Não disse antes prá ninguém dizer que mãe é mesmo inconveniente em seus elogios aos filhos. Mas você é de fato o máximo. Eu te amo e estou com muitas saudades. Beijos todos os dias e vou agradecer - em reza - o seu novo (e o velho) guru (e certamente o Bruno também).

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  2. Lauretinha querida..como sempre de arrasar...vc é o máximo...continue assim ..
    Bj grande

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