quinta-feira, 29 de setembro de 2011

People like a gente

Frustrada e com voz de travesti.
É assim que me sinto depois do meu segundo dia do curso de Budismo e Meditação.
Não consiiiiiiiiigo meditar. Não consigo, não é pra mim. Tô mals. 
Passo a uma hora de meditação pensando na vida, no que eu vou fazer no dia seguinte, na fome que eu tô sentindo, me coçando, sentindo a perna perder sangue na formigação, dando risadinha interior da voz do professor, abrindo os olhos devagarzinho pra ver a cara das outras pessoas concentradas, tentando descobrir que parte do corpo eu deveria estar sentindo... (as aulas de meditação são ótimas pro vocabulário biológico. Tô aprendendo o nome de várias partes do corpo).
É só minha segunda tentativa, é verdade, mas já me sinto fracassada. Tá certo que todos os meus colegas praticaram pelo menos 4 vezes na semana, enquanto eu estava tomando sol no parque, experimentando roupa na Top Shop ou me empanturrando de água e vegetais (feliz mês vegetariano, Laura)... mas mesmo assim tô mals.
O professor dedicou meia hora inicial do curso para que todos nós falássemos sobre o que sentimos durante as práticas em casa e meus amigos descreveram sentimentos lindos, cheios de flutuações, perda de consciência, momentos mágicos, encontros sub-conscientes, felicidade instantânea. E eu lá... balançando a cabeça, fingindo que super compartilhava de tais momentos lindos. Tô mals.
Queria tanto sentir o nirvana :(
Enfim, desistir jamais, né?
Meditação bem a parte, o que mais me emocionou foi um encontro muito inusitado durante as discussões sobre Budismo. 
Já tinha reparado que o Paul (nome fictício pra guardar identidade ihihi) era tão peixe-fora-d'água como eu. Todo roqueiro, grandão, preto dos pés à cabeça, caveirinhas, tatuagens estranhas, cheio da dor nas costas. 
Daí que o professor adora fazer duplinhas e me juntou com o Paul. Pediu que, juntos, respondêssemos a pergunta: 
No que você acredita?
(...)
Vai, vai, vai! Tenta responder!! 
Ficamos lá, Paul e eu, tentando entender a pergunta. Será que o que eu acredito é a mesma coisa que eu quero? Será que o que eu acredito é o que eu vejo? O que me mandam acreditar? Deus? Minha mãe? Paz no mundo?
Enfim... filosofamos, desviamos um pouco do assunto e uma lágrima escorreu do meu olho.
Ele me contou que resolveu fazer o curso pra tentar curar o coração partido. E na quarta, justamente na quarta-feira, foi o aniversário de um ano do pé. Um ano depois! Me doeu o coração, sério.
Mas foi a partir daí que chegamos ao nosso veredito para a pergunta. Eu e Paul, cada um com seu motivo, acreditamos na auto-felicidade!! Acreditamos na busca pela felicidade interior, pelo amor por nós mesmos, pela auto-curtição, como ele disse : ) 
Paul e eu acreditamos que antes de gostar de alguém (qualquer alguém), antes de colocar o coração nos nossos atos, antes de gastar energia, de se dedicar pelos outros, a gente precisa muito de uma felicidade aqui dentro.
Não, não é fácil mesmo, mas a jornada pra encontrá-la é muito divertida!! Tem que ser.
O professor contou uma coisa muito interessante: ele disse que a nossa mente é condicionada a fazer narrativas. Por exemplo: o tic-tac do relógio. O barulhinho não é tic-tac, é tic-tic, repara. O som não muda, mas na nossa cabeça a gente cria um outro som, pra dar um "fim" àquele ciclo de sons. 
E não é muito verdade isso? Quantas vezes a gente criou uma história enorme na cabeça e a realidade era muito mais simples? Pelo menos nós, mulheres, a-do-ra-mos fazer isso!
Daí que eu e meu dupla chegamos à conclusão que a auto-felicidade tá muito na nossa cabeça! Cabe à nós a decisão de ser mais ou menos felizes. 
A gente passou também pela piração do ficar sozinho, gostar de estar sozinho, aproveitar o tempo que temos com nós mesmos. 
Complexo, mas que faz todo sentido e todo mundo devia tentar.
Eu disse pra ele que gostava de mim quando conseguia cantar Like a Prayer sem errar.
Ele disse que gostava dele quando terminava um joguinho xis de videogame.
: ))) 
Ganhamos um "Good point, guys" do professor e até brindamos com nossa xícara de chá-com-leite.
(auto-torção na auto-felicidade)
E pra terminar, o professor nos contou sobre os 3 Refuges do Budismo: Buddha, Dharma e Sangha. 
E o mais legal de todos é o primeiro. 
Buda não é um Deus ou necessariamente uma pessoa. O verdadeiro Buda está dentro de nós mesmos, na nossa natureza. Todos nós temos o potencial para sermos Buda, para sermos plenamente felizes. 
Precisamos olhar para dentro e achá-lo. 
(é bem difícil explicar as coisas que aprendo na aula. Acho que tem muito da nossa própria experiência e interpretação, né? Enfim, vou continuar tentando)
Momento fofo-eu-amo-os-budistas: enquanto as outras religiões juntam as mãos para orar e atingir o Deus que está lá em cima, os budistas juntam as mãos e dão aquela abaixadinha no corpo para cumprimentar o Deus que existe dentro de você.
Owwnnn!
Ps - a voz de travesti é porque tô rouca e mais resfriada impossível.

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