quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A meditação da gentileza

Eu podia ficar horas aqui contando da tristeza que eu tô sentindo esses dias. De como vai ser (e já tá sendo) difícil ir embora daqui e, de certa forma, deixar tanta coisa incrível pra trás.
Mas sei lá, não tem porquê dividir isso. Talvez eu vomite tudo no derradeiro post (que aliás, só de pensar, eu choro).
Hoje foi minha última aula do curso de budismo e, apesar de eu não ter meditado porcaria-nenhuma, foi um dos dias mais especiais que vivi aqui. 
Conversei com meu professor sobre essa dificuldade de passar pra frente o que eu aprendi no curso e ele disse que eu nem deveria tentar. Que o budismo tem a ver com nossa própria experiência, não existe regra ou cartilha. É pegar os ensinamentos do gordinho simpático e interpretá-los da sua maneira (e pra ser muito sincera, tem muita coisa - muita mesmo - que eu não entendi ainda).
Enfim, aqui vai a última tentativa de explicar porque tudo isso mudou minha vida de um jeito lindo-de-se-ver.
Hoje aprendemos a Kindly Awareness Meditation.
Ela começa com tudo aquilo que eu já ensinei pra vocês (ahahahaha, sempre quis escrever isso) - vai sentindo atrás do olho, o cucuruto, o peito, a perna cheia de formigação e etc. Daí, já em estado de concentração (ou fingindo concentração no meu caso), começa a Kindly Awareness Meditation pra valer. São 5 estágios.
O primeiro estágio é você com você mesmo: estar consciente do seu estado de ser-humano, da sua conexão com a Terra (que, depois de uns 40 minutos sentado, já é bastante dolorida) das sensações da respiração (pode parecer imbecil, mas é bem legal prestar atenção no caminho do arzinho), de como se sentir feliz no aqui e agora.


O segundo estágio é entre você e um amigo querido: trazer o amigo para a prática, imaginando ele respirando (tanta coisa legal pra fazer com o amigo... mas é isso mesmo, respira) enquanto o visualiza na sua experiência de felicidade.
Enquanto pensa nessa pessoa, desejar que ele(a) esteja feliz, bem, livre de sofrimento e que tenha encontrado a paz. 


O terceiro estágio é entre você e um desconhecido (alguém por quem você não tenha sentimentos/conexões, mas que já tenha visto na vida). Nessa fase a gente tem que notar os tipos de sensações que aparecem, mesmo que for indiferença. Prestar atenção se fazemos algum tipo de pré-julgamento. E, assim como com o amigo, desejar que ele(a) esteja feliz, bem, livre de sofrimento e que tenha encontrado a paz.
E foi aqui que perdi a pouca concentração que me tinha sobrado. Foi difícil pensar em um desconhecido, mas a primeira pessoa que me veio na cabeça foi uma velhinha que conheci numa estação de trem na França (se não me engano) em 2009. Lembro que ela estava com uma baita ferida na perna e eu perguntei se ela precisava de ajuda. Acho que ela ficou feliz com a minha preocupação tão rara entre europeus e começou a me contar que o marido dela tinha ido pra guerra, que ela tinha perdido um monte de coisa e um monte de gente. Não sei exatamente porquê, mas eu nunca esqueci dela. Daí entrei na depressão (que mais tarde vim a entender que essa é sim uma experiência budista) de pensar no tanto de gente que conheci aqui e que com certeza eu nunca mais vou ver na vida. Do quanto eu não devo ter dado a devida atenção quando tive chance. Do tanto que deixei de conhecer de verdade essas pessoas. Mas, por outro lado, do tanto que elas contribuíram com a minha experiência aqui, cada um do seu jeito. A gente não devia jamais dar pouco caso pra quem, a primeira vista, não tem muito o que dizer. Jamais. Essas trocas são das coisas mais valiosas que temos e podemos viver. Pois sim.


O quarto estágio é entre você e alguém difícil (alguém que você não goste ou esteja tendo problemas): ui, né? Mas ó, se um dia vocês acreditaram no que eu escrevo aqui, acreditem uma última vez: que coisa mais libertadora de se fazer!!! Trazer essa pessoa para sua prática de felicidade, deixando de lado as diferenças é uma sensação sem igual. O negócio não é pedir desculpas ou perdoar, mas pensar quem alimenta o ressentimento e porquê. É um tapa bem dado na cara. Vale a pena reparar se acontece algum reflexo físico, tipo a barriga começa a doer, o ombro encolhe, a mandíbula enrijece. Traz o inimigo pra sua respiração, conectadinhos e deseje que ele(a) esteja feliz, bem, livre de sofrimento e que tenha encontrado a paz.


O último estágio é entre você e os outros 3, todo mundo junto: impossível não dar uma risadinha imaginando o seu encontro com as outras 3 pessoas que, a princípio, não têm absolutamente naaaada a ver umas com as outras... o meu encontro foi bem inusitado, teve até aquelas bolas de discoteca no teto : )
E assim, depois dos 4 devidamente apresentados (prestar atenção que bons sentimentos em comum você tem pelas 4 pessoas), convidar todo o resto do mundo. Abrir o peito e mandar boas vibrações pra todo mundo do mundo inteiro, desejando que eles(as) estejam felizes, bem, livres de sofrimento e que tenham encontrado a paz.
Eu amei essa experiência, mesmo. Me deu vontade de meditar todo dia (cof cof cof, uma vez a cada dois ou três dias, vai?) 


Pra concluir o curso - e, mais do que isso, concluir a minha vida por aqui - conversamos na aula sobre estar acordado para o mundo, mas principalmente para sua própria vida. Daí o Budinha fez mais uma das suas listas de motivos pelos quais estamos "dormindo" na vida e o que fazer para acordarmos, mas... já que eu experimentei uma mini-acordadinha vou abandonar o gordinho simpático e dizer que  nada, absolutamente nada (e isso inclui o fantasma da "idade" e a "chatice" da carreira) é mais importante do que a nossa própria felicidade. Não vou estender nesse assunto, porque não me aguento mais falando de felicidade e sonho por aqui, mas só quem consegue olhar pra dentro e enxergar que tá tudo aqui, só depende da nossa vontade de fazer acontecer... ah, a gente veria muitos mais sorrisos por aí.
E de uma vez por todas, parem de se lamentar por coisas que cabem a nós mesmos mudarmos. 
Chega de empurrar com a barriga e de se contentar com o mais ou menos.
E, pelo amor de Deus, dêem a si mesmo o valor que merecem, acreditem no auto-amor e nunca se esqueçam que o mais divertido do mundo é ser feliz com você mesmo. 


"He who binds to himself a joy 
Does the winged life destroy; 
But he who kisses the joy as it flies 
Lives in eternity's sun rise."
William Blake

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