domingo, 26 de junho de 2011

Aconselhando o desapego

Todo mundo tem um conselho pra dar nesse momento pré-viagem. Seja lá qual for ele, o objetivo de todos, sendo muito otimista, é uma fézinha pela minha felicidade durante a viagem. Por isso, muito agradecida. 
E, como não poderia deixar de ser, eu já ouvi de-um-tudo absolutamente tudo sobre isso.
Minha vó, por exemplo, me disse para não aceitar nada de estranhos. Se possível nem cruzar com os estranhos na rua. Evitar, inclusive, sentar ao lado dos estranhos no metrô, porque metrô, né? Vai saber. 
Meus amigos, em compensação, me disseram pra aproveitar. Aproveitar muito porque passa rápido, aproveitar porque eu nunca vou me esquecer, porque eu vou querer ficar, porque vai ser incrível, porque vai mudar minha vida, porque 3 meses é muito pouco.
E tem uma terceira categoria de conselhos, aquela dos mais transgressores. E eles são mais ou menos assim: vá e faça tudo o que te der vontade, faça aquilo que você sempre quis fazer e nunca fez, faça coisas que até Deus duvida, faça e tenha vergonha de contar depois. 


Pausa para meditação.
E o que a minha vó tem em comum com os mais transgressores? O desapego. Minha vó diz assim: minha netinha, jamais esqueça de onde você veio, da sua religião, da sua família que tanto te ama, ligue pelo menos uma vez por dia e... obviamente desvie o olhar dos estranhos. Meus amigos transgressores falam exatamente o oposto: despegue de tudo. Esqueça tudo e todos no Brasil. Lá você não é ninguém. Esqueça tudo o que você fez até hoje. Esqueça inclusive quem você é. 
E como eu tenho mais amigos que avós, fiquei confusa.
Forte, né?
O que todos eles (incluindo minha vovó) esquecem é que eu sou uma moça de 30 anos, que já passou da fase de fazer intercâmbio e me preocupar que a maioridade só começa depois dos 21, de achar bacana conhecer estranhos no metrô (apesar de nunca ter achado nada perto disso) e que não tenho mais idade pra experimentar certas coisas. Algumas talvez, mas outras tenho certeza que não.


E falando em desapego, devo confessar que comecei a exercê-lo um pouco antes de pisar em solo londrino.
Desapeguei da comida - dei uma engordadinha com a desculpa de muitas mudanças, o inverno que faz a gente comer mais e a vontade de comer o que eu quiser, porque em pounds é muito mais caro.
Desapeguei da unha - já estou treinando pros meus 3 meses.
Desapeguei da rotina (chatérrima) de cremes - e ganhei uma pele com vida própria.
Desapeguei das roupas - e minha calça de moletom do colégio virou melhor amiga.
Desapeguei da arrumação - meu quarto virou uma maloca.


E assim vamos. Com a esperança de uma desintoxicação made in Europa, com alguns desapegos e talvez um bocado de amigos frustrados na volta!

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