segunda-feira, 18 de julho de 2011

A descoberta

Tenho uma tatuagem no "ombro, parte de trás". A primeira das quatro. Fiz com 18 anos. Eu e meu amigo australiano, Mark, entramos na primeira loja que vimos na Rua Augusta que, naquele tempo não era tão hype como é hoje. Era um lugar pequeno. O tatuador era recepcionista, caixa E artista.
Com aquela paciência de tatuador:"Fala aí, o que você quer!". 
"Ai moço, posso ver umas opções?". 
Eu e o Mark debatemos vários minutos sobre o melhor desenho. 
Lembro que o Mark queria uma flor (!), mas eu em toda minha sensatez achei que um símbolo chinês era muito mais apropriado para quando tivesse 80 anos. Uhum.
Parênteses: eu não tinha nenhuma certeza que queria fazer uma tatuagem, muito menos o quê fazer. Mas eu tinha certeza que queria mudar meu status de nerds pra descolada e com certeza a tatuagem seria um grande avanço. Fechou parênteses.
Tivemos muitas dúvidas. Os símbolos bonitos queriam dizer coisas idiotas. Significados felizes tinham símbolos horrorendos.
Concordamos que esse "desenho" parecia bem razoável.
Embaixo dele uma legenda legível e em letras garrafais: Felicidade e Sorte (não é exatamente esse símbolo aí de cima, mas tem esse "menino" da esquerda - é assim que chamo ele. Não vou divulgar a imagem pra preservar a identidade e exclusividade). 
"E aí, vocês vão decidir ou não?"
Lembro como se fosse hoje a cara de aterrorizado do Mark enquanto ele via o tatuador esfregando a agulha no meu ombro. A dor foi horrível.
E cá estou eu, 12 anos depois, com ela lá atrás, meio desbotada, meio esquecida. Gosto dela. Gosto mais do momento que ela marcou do que do desenho propriamente dito. Mas o saldo é positivo.
Era.
Até ontem.
Sexta tivemos o dia mais calor desde que cheguei aqui em Londres e resolvi gastar um pouco das minhas roupas de verão que mal saíram da mala. 
Cheguei na aula de inglês, tirei o casaco e ouço uma quase-gargalhada. Era o Henry, meu amigo Taiwan. Ele é super sorridente por natureza, então não me espantei muito com a felicidade momentânea.
Diz ele baixinho pra não atrapalhar a professora: 
"Ei, Laura, acabei de ver sua tatuagem! Você sabe o que está escrito no seu ombro?".
"Claro que sim!"
"O que você ACHA que está escrito?"
Gelei. Transpirei. Quase desmaiei.
"Felicidade e Sorte, óbvio"
Fez-se uma risada quase demoníaca.
"Desculpa te desapontar, mas não".
"Quêêêêê???" 
Professora: "Sem conversa paralela, gente!" (ihih)
"Você quer mesmo saber?"
Bom, nessa hora eu já tinha perdido minha rotineira fome das 10h30, já tinha suado horrores e queria me jogar na Oxford St.
"Aí tá escrito que você está huuuummmmm ééééééééé... se guardando para seu marido!"
"Whaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaat?"
Momento reflexão, todos juntos!
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Saí da classe antes do horário oficial e fiquei sentada muda sem saber o que fazer.
Daí vem ele, tadinho, todo triste pela minha decepção.
"Pensa bem, Laura, podia ser muito muito pior".
Podia ser pior mesmo, mas meu Deus, me senti a pessoa mais ridícula da face.
Eis que aparece a luz.
Minha amiga chinesa.
Ele contou pra ela, ela examinou bem minha tatuagem. Eu não sabia mais onde enfiar minha cara. Os dois não paravam de rir e falar na língua estranha.
Depois de alguns minutos de debate, eles vêm com o veredito: pode ficar tranquila, Laura. Realmente quer dizer coisa boa, algo próximo de "Felicidade e Sorte", mas esse símbolo, na língua Taiwanesa, é muuuuuito parecido com "estou me guardando pro meu marido". 
Fica tranquila, mas por via das dúvidas, se quiser manter a dignidade, evite Taiwan.
Fim.

3 comentários:

  1. Laurita! você agora me deixou tensa... tenho uma tatoo no pescoço que pedi ajuda à um amigo japonês. Ele me garantiu que significa "canção/música" espero nunca encontrar o seu amiga Taiwan! rs....

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  2. Posso te ver contando essa história hahaha

    Linda.

    :*

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  3. tô me matando de rir. muito bom!

    beijos amiga, saudade!

    Gabi Bottura.

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