sábado, 23 de julho de 2011

Despreconceituado

Se eu tivesse que ir embora amanhã eu acho que já teria melhorado um pouco meu inglês. Já teria conhecido a maioria dos lugares óbvios. Teria feito bons amigos, muitos deles pro resto da vida. Voltaria com algumas dicas pra dar. Acho que não teria aprendido muito sobre moda, mas voltaria com outros "pontos de vista". Aprendi a lavar minhas roupas, a comer macarrão com manteiga todos os dias e a amar ainda mais coca-cola. Ganhei cicatrizes pelo corpo, mas perdi algumas frescurites. Dei risada até perder o fôlego. Me sinto uma pessoa mais leve.
Mas se tem uma coisa que eu aprendi nesse lugar, durante esses 30 dias e que eu demorei 30 anos pra aprender foi parar com essa mania idiota de julgar as pessoas, seja pela aparência, seja pela primeira impressão.
Aqui as pessoas são muito felizes sendo elas mesmas, não importa a profissão, não importa a roupa que estão usando, a marca da bolsa, o(a) namorado(a) que vem do lado, se é rico, pobre, loiro, moreno, careca, cabeludo, rei, ladrão, polícia, capitão... nem acho que eles são felizes sempre no sentido da felicidade profunda e eterna, mas no sentido de se darem bem com quem escolheram ser. E se eles se sentem assim, quem somos nós (as outras pessoas) para julgarmos. Não é bonito isso? 
Tudo começou a fazer sentido quando eu conheci esse casal:
(importante: sem a máscara, o cara tem metade da cabeça careca, metade cabeluda. Daqueles dentes pontudos de propósito e um deles dourado. Lentes de contato brancas nos olhos).
Post interativo, vai? Pensa aí o que você acha deles.
Que são malucos, muito estranhos, "vou pro outro lado da calçada fácil", rehab-já, sem noção, querem aparecer, rebeldes sem causa... eu devo ter pensado um pouco de tudo isso junto quando os conheci na semana passada. Esse casal (de verdade, com amor e tudo mais) tem uma banda chamada B-Movie Vampires e tocaram semana passada antes da banda da Helen. Lembro que quando cheguei, a Helen cumprimentou eles e a Jenny (a moça) me deu um sorrisinho. Depois de tudo aquilo lá de cima que eu pensei dela, fiz um baita esforço e dei um sorrisinho de volta. 
Subiram no palco montados no sangue - todos tinham alguma maquiagem de sangue pela cara - fizeram seu show e eu simplesmente adoreeeei as músicas deles. 
A performance teve a participação especial de um saco preso no microfone que ficava tremendo, dando alguns gritinhos e com "sangue" escorrendo (a idéia, segundo a Jenny, é que tem uma cabeça lá dentro. Uhum).
Com um mix de todos os "vou pro outro lado da calçada fáciiiiil" + poxa, gostei das músicas deles, fui falar com a Jenny. 
A primeira coisa que ela disse pra mim foi: "Que bom que você gostou, obrigada. Você tem uma cara doce, parece uma boneca. Não sou gay, mas eu gostei de você de cara". Oiiii?? Uma inglesa esquisita sendo mais amigável que brasileiro-sozinho-no-estrangeiro? 
E assim ficamos amigas! Ela me apresentou a banda inteira, conversamos a noite toda. Uma certa hora o marido dela (sem a máscara, mas com todo o resto), me disse assim: darling (juro que começou com darling) não confie nas pessoas. Você parece ser uma menina com um coração muito bom. Estamos aqui do seu lado agora, mas se você precisar de alguma coisa enquanto estiver sozinha, andando pela cidade, avisa a gente. Não se meta em problemas.
Nocaaaaaute em mim. Fiquei paralisada.
Tudo bem, eles não me pagaram uma pint nem me ofereceram a casa de verão em Capri, mas mesmo assim esses dois plantaram uma semente no meu coração! Owwn! Talvez eles nunca saibam disso, talvez quem está lendo pense que eles entenderam minha tatuagem das costas (essa história virou a causa de tudo!) e, na verdade só queriam se aproveitar de mim, mas não me importo. 
É difícil não criarmos rótulos nas pessoas, mas todo mundo merece uma segunda chance de provar o contrário.
Enfim, naquele sábado começou uma mudança na minha vida. 
Uma mudança que todos deveriam pensar a respeito. 
Ps - essa história rendeu minha decisão pela quinta tatuagem: vai ser uma caveira. Simples assim, sem nenhum significado a ser descoberto : )

2 comentários:

  1. Quando você voltar, pls nos ensine (eu a a Naty)!!!
    hahahahahaha
    bjos

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  2. amigaaa, que orgulho de você!
    Acho que preciso ir passar um tempo em Londres hehe.
    (A Naty do comentário acima sou eu)?
    Miss U!
    Beijos,
    natoca.

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